domingo, 31 de janeiro de 2010
De que falamos quando falamos de Viagens na Minha Terra com Vampiros
Agora que os remakes se tornaram parte do eco-sistema contemporâneo (carros, filmes, músicas, estilos – da arquitectura ao vestuário – vão repetindo modelos do passado), o que era surpreendente era que os originais literários não fossem eles próprios refeitos. Tal atraso ficou certamente a dever-se à sobrevalorização da criatividade nos meios literários: em vez de admitir que andamos há séculos a rescrever Shakespeare, cada novo Autor se engana a si – e engana os outros – pretendendo ter criado uma nova obra. Pierre Menard, que era um verdadeiro original, recriou, palavra a palavra, o Quixote; muito naturalmente, não teve seguidores. O caminho entre a clonagem perfeita e a novidade havia de estar, portanto, na variação das formas, na adição dos conteúdos, na melhoria da performance do livro – numa palavra: no tuning.
A experiência dos Quirk Classics foi a de aplicar um kit de transformação ao original de modo a fazê-lo passar para o universo da origem da intervenção. Pride and Prejudice and Zombies (2009) é literatura clássica convertida às convenções do sub-género dos mortos-vivos, e Sense and Sensibility and Sea Monsters (2009) rende-se aos protocolos do sub-género dos monstros marinhos – em ambos os casos com reciclagem das características dos personagens originais, e cerzindo, de forma imperceptível para o leigo, os eventos típicos dos respectivos tipos literários nos lugares e nos tempos dos textos base. Esta operação de metamorfose de obras clássicas da literatura é uma variante do ready made: sobre-impondo-lhes elementos estranhos, obtém-se a sua deslocação para outra área de sentido.
Nas Viagens na Minha Terra com Vampiros, a primeira experiência de um Clássico Artilhado em língua portuguesa, sobrepus à estrutura original de Almeida Garrett um conjunto de elementos exógenos correspondentes a um sub-género contemporâneo. Porém, ao invés do blending dos Quirk Classics, mantive o apartheid das duas componentes, tornando-as distrinçáveis para o leitor atento. E, sobretudo, tentei não deixar deslizar o texto intervencionado para o universo do sub-género aditado: por adições e subtracções, que pretendi cirúrgicas, fiz coexistir os métodos narrativos originais e os que importei do livro clássico do género (Dracula, de Bram Stoker – de que o presente livro seria uma prequela, por razões que serão óbvias ao leitor), de modo a que o todo fosse portador de um sentido que não estava em nenhuma das suas partes.
Assim, em vez de o original ser absorvido pelas alterações, absorveu-as e sujeitou-as à sua lógica.
Não é um livro de vampiros: são as Viagens na Minha Terra – como poderiam ser com eles.
A experiência dos Quirk Classics foi a de aplicar um kit de transformação ao original de modo a fazê-lo passar para o universo da origem da intervenção. Pride and Prejudice and Zombies (2009) é literatura clássica convertida às convenções do sub-género dos mortos-vivos, e Sense and Sensibility and Sea Monsters (2009) rende-se aos protocolos do sub-género dos monstros marinhos – em ambos os casos com reciclagem das características dos personagens originais, e cerzindo, de forma imperceptível para o leigo, os eventos típicos dos respectivos tipos literários nos lugares e nos tempos dos textos base. Esta operação de metamorfose de obras clássicas da literatura é uma variante do ready made: sobre-impondo-lhes elementos estranhos, obtém-se a sua deslocação para outra área de sentido.
Nas Viagens na Minha Terra com Vampiros, a primeira experiência de um Clássico Artilhado em língua portuguesa, sobrepus à estrutura original de Almeida Garrett um conjunto de elementos exógenos correspondentes a um sub-género contemporâneo. Porém, ao invés do blending dos Quirk Classics, mantive o apartheid das duas componentes, tornando-as distrinçáveis para o leitor atento. E, sobretudo, tentei não deixar deslizar o texto intervencionado para o universo do sub-género aditado: por adições e subtracções, que pretendi cirúrgicas, fiz coexistir os métodos narrativos originais e os que importei do livro clássico do género (Dracula, de Bram Stoker – de que o presente livro seria uma prequela, por razões que serão óbvias ao leitor), de modo a que o todo fosse portador de um sentido que não estava em nenhuma das suas partes.
Assim, em vez de o original ser absorvido pelas alterações, absorveu-as e sujeitou-as à sua lógica.
Não é um livro de vampiros: são as Viagens na Minha Terra – como poderiam ser com eles.
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